Tomé-Açu é destaque em experiências agroflorestais no Brasil
- Folha Notícias
- 26 de nov. de 2022
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Safta da Camta demonstra como superar os desafios na implementação e manutenção das agroflorestas

Identificar e destacar iniciativas coletivas de grande alcance em sistemas agroflorestais (SAFs) no país, como projetos, programas e políticas públicas. Esse é o objetivo do “Relatório de Experiências com Sistemas Agroflorestais no Brasil”, estudo publicado pelo SiAMA (Sistemas Agroflorestais na Mata Atlântica), programa coordenado pela Agroicone.
Elaborado em parceria com o Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), a publicação também traz informações aprofundadas sobre três experiências de sucesso no Pará e no Espírito Santo. Uma delas é em Tomé-Açu.

O estudo mostra que a maior parte das experiências mapeadas está concentrada nas regiões Sudeste e Norte do Brasil. As iniciativas mais antigas, isto é, que surgiram entre 1984 e 1990, são todas de natureza coletiva ou realizadas por organizações não-governamentais. Foi constatado que estas experiências emergiram de uma necessidade social de produção agrícola sustentável, a partir de tecnologias alternativas orientadas pela preservação ambiental e a justiça social.
Para uma melhor compreensão sobre os desafios enfrentados ao promover e implementar os sistemas agroflorestais, bem como possíveis caminhos para superá-los, o estudo apresenta com maior detalhamento três iniciativas. São elas: a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA) e o projeto Cacau Floresta, ambos localizados no Pará, e o Programa de Ampliação da Cobertura Florestal do Espírito Santo (Reflorestar).

Tecnologia social de sucesso no Pará
A CAMTA iniciou suas atividades com a chegada dos primeiros imigrantes japoneses na região de Tomé-Açu, no Pará, em 1929, com o objetivo de cultivar cacaueiros, hortaliças e arroz. A partir do final dos anos 60, após uma doença chamada fusariose levar ao declínio os cultivos do seu produto carro-chefe, a pimenta-do-reino, a cooperativa ou a procurar formas de produção alternativas ao monocultivo, mais adaptadas à realidade amazônica.
Com o apoio do governo japonês, um de seus maiores parceiros, a CAMTA implantou em 1987 uma agroindústria de polpa de frutas, o que contribuiu para que os cultivos agroflorestais fossem ampliados na região, resultando em um maior desenvolvimento sustentável regional, assim como maior diversidade de produtos. Mais tarde, em 2000, a CAMTA decidiu transferir as tecnologias agroflorestais cooperativistas para as comunidades da região. Foi assim que o SAFTA (Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu) foi sistematizado e transformado em tecnologia social.

A partir de um processo participativo, a CAMTA transfere suas técnicas de cultivo agroflorestal para agricultores familiares, mediante parcelas demonstrativas comunitárias (PDC), assessoradas por técnicos visando a formação de agentes multiplicadores. Com isso, a tecnologia dos SAFTA foi disseminada para 25 comunidades de agricultores familiares, beneficiando mais de 5 mil pessoas de 1.125 famílias entre os anos de 2010 e 2017. As ações de disseminação foram iniciadas em municípios da região de Tomé-Açu e, posteriormente, realizadas em comunidades no Amapá, Amazonas, Bolívia e Gana.
A experiência da CAMTA demonstra que um dos desafios principais para o sucesso dos sistemas agroflorestais está ligado ao desenho dos sistemas, com arranjos de espécies adequados às diferentes realidades locais. O SAFTA apresenta-se como uma metodologia para a adaptação local dos arranjos a partir de um diagnóstico participativo que busca aumentar a compreensão sobre a realidade local de modo a tornar mais eficiente a escolha de desenhos e espécies cultivadas.
O estudo “Relatório de Experiências com Sistemas Agroflorestais no Brasil” está disponível na biblioteca do SiAMA. A publicação integra uma série de ações do programa que visa difundir conhecimento sobre as agroflorestas, em especial, na Mata Atlântica, para incentivar sua adoção por produtores rurais e, assim, gerar renda e colaborar com o clima.
Além de produzir materiais técnicos e capacitar agricultores familiares sobre agroflorestas, o programa SiAMA também implanta Unidades Demonstrativas, incentiva mercados para produtos agroflorestais e mobiliza atores em três redes territoriais para a troca de informações e articulação de parcerias. Saiba mais no site.
Publicação original: ciclovivo.com.br